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Foto do escritorRoberto Colacioppo

Da Explosão ao Insight: A Mentalidade de Aprendizagem

Atualizado: 21 de nov. de 2023


Na internet, circulam diversos artigos que destacam a reação entusiástica da equipe da SpaceX diante da explosão de seu maior protótipo em abril último. Eles trazem esse fato como exemplo da valorização de uma mentalidade de aprendizagem. Stefan Thomke, especialista consagrado pela obra "A Cultura da Experimentação", postula que adotar essa mentalidade é fundamental para qualquer organização que almeje abraçar a experimentação em larga escala. Associada à tolerância com o fracasso, essa postura reconhece o valor do erro, desde que identificado cedo, evitando o desperdício de recursos substanciais e riscos futuros. Thomke pontua: "Um experimento que não conduz a um resultado positivo não deve ser visto como um fracasso ou desperdício." Neste artigo, endossamos essa concepção e sugerimos o resgate do Ciclo PDSA, também conhecido como Ciclo do Aprendizado, uma ferramenta valiosa útil para apoiar esse percurso.


A implementação de uma mentalidade de aprendizado em empresas pode parecer simples em teoria, mas a prática revela uma história diferente. Geralmente, as pessoas tendem a confiar excessivamente em suas experiências prévias, apostando em soluções predeterminadas e preparando justificativas para possíveis falhas. Essa tendência, em contraponto à mentalidade de aprendizado, poderia ser chamada de 'mentalidade de certezas'. Ela deveria alimentar a lista de ‘vírus mentais’, iniciada pelo Formigari no seu artigo Procura-se um Culpado, e ser catalogado como “O Excesso de Confiança” que é a tendência de superestimar as próprias habilidades, precisão do conhecimento e capacidade de prever eventos futuros com mais certeza do que é justificado.


Um incidente ilustrativo ocorreu quando estávamos assessorando uma equipe de uma empresa de cartões de crédito, cuja meta era ampliar suas vendas a novos clientes. Neste contexto, apesar do estímulo da liderança à experimentação e à aceitação de falhas, um gestor confidenciou-me seu plano B: ele reservara parte do orçamento para incentivar vendas por meio de um bônus em dinheiro para novos clientes, convencido de que tal estratégia impulsionaria as vendas significativamente. Quando questionei a certeza de seu sucesso, ele se mostrou surpreso, presumindo que o resultado positivo era evidente. Com cautela, propus um teste simples que consumiria apenas uma fração mínima do seu orçamento do bônus. Em duas semanas, os dados revelaram que, para clientes de renda média, o bônus em dinheiro não alterou o resultado das vendas, e, inesperadamente, reduziu a taxa de conversão entre os clientes de alta renda, que se mostraram céticos quanto ao incentivo. Esse insight não só gerou um valioso aprendizado como também preservou quase todo o orçamento para futuras experimentações.


No século passado, o Dr. W. Edwards Deming (1900-1993) contribuiu significativamente para a cultura organizacional com o legado do Ciclo PDSA (Plan-Do-Study-Act), promovendo-o como ferramenta essencial para impulsionar a aprendizagem ativa nas organizações. Essencialmente, o PDSA é uma versão adaptada do método científico, com um destaque especial para a etapa "Act", refletindo a crença de Deming de que "aprender tem real valor quando leva a uma ação concreta". Ao considerarmos as etapas de Planejar, Executar e Estudar (P, D e S, respectivamente), abordamos o coração do processo de aprendizagem que conduz à ação. O PDSA, assim, evolui de "Learning (Plan-Do-Study) to Action" — uma transição da teoria ao impacto prático. Essa perspectiva às vezes suscita dúvidas, mas ao enfatizar sua importância para forjar uma cultura de experimentação, desperta-se um reconhecimento da necessidade de compreender profundamente o que significa aprender de verdade.


No livro “Quality Improvement Through Planned Experimentation”, Lloyd Provost, um discípulo de Deming e autoridade em melhoria de processos, ensina que "Os experimentos são fundamentais para aprimorar nossas previsões através do aprendizado que proporcionam." Ele explica que o aprendizado advém de um de dois cenários possíveis:


Se um experimento demonstra a falha de uma teoria que defendíamos, isso nos leva a questioná-la e a aperfeiçoar nossas previsões futuras, abrindo caminho para mudanças valiosas. Por outro lado, quando um experimento valida uma teoria sob condições de incerteza, reforçamos nossa confiança nela e, consequentemente, melhoramos nossas previsões. Isso nos apresenta mais uma excelente ocasião para promover uma mudança com base na teoria confirmada.


Você já notou que os experimentos são essenciais para melhorarmos nossas previsões? Para que o aprendizado seja eficaz, é crucial seguir a ordem estabelecida: começamos identificando nossas hipóteses teóricas, que nos fornecem predições a serem testadas (Plan). A seguir, realizamos testes que produzam dados comparáveis com essas predições (Do), analisamos esses dados para verificar a validade de nossa teoria (Study) e, com base nisso, agimos conforme as novas evidências (Act). Este é o fluxo ideal de aprendizado.


Nenhum aprendizado real ocorre quando esse processo é invertido, isto é, quando buscamos dados ou justificativas que apenas confirmem nossas crenças preexistentes em vez de testá-las objetivamente. Essa prática, infelizmente, é mais frequente nas organizações do que se gostaria de admitir, refletindo uma postura do viés de confirmação ou talvez do Negacionismo de Dados, conforme o Leonardo aponta em seu artigo recente neste Blog.


Concluir a edificação de uma Cultura de Experimentação exige tempo e dedicação contínua à mentalidade de aprendizado. É essa mudança progressiva no comportamento e nas crenças das pessoas que sustenta uma verdadeira mudança cultural.

Inspirados pelo Ciclo PDSA de Deming, enfatizamos a importância de cultivar um aprendizado estruturado: partindo de hipóteses testáveis em direção a um conhecimento prático e evitando a armadilha das convicções inflexíveis. Em vista disso, encerramos este artigo não com uma conclusão incontestável, mas com um convite à reflexão e ao progresso. Estamos perante uma oportunidade única de colocar em prática princípios de inovação e flexibilidade que podem revolucionar nossas organizações. Então, que tal aceitar o desafio e, juntos, darmos nova vida ao PDSA nessa jornada enriquecedora de aprendizado e transformação?

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