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Foto do escritorLeonardo Andrade

Muito Além dos Dados: A Experimentação como Catalisadora da Consciência Organizacional e da Inovação


No seguimento do meu artigo anterior Negacionismo Organizacional de Dados, irei abordar agora os níveis de consciência organizacional e sua relevância na criação de uma cultura de experimentação robusta. Entender esses níveis não é apenas uma questão teórica, mas uma ferramenta pragmática para implementar estratégias eficazes, ressoando com a máxima de Peter Drucker: "A cultura devora a estratégia no café da manhã." 


A teoria da Dinâmica em Espiral (do inglês Spiral Dynamics), desenvolvida por Don Beck e Christoph Cowan com base no trabalho de Clare Graves e adaptada por Frederic Laloux em "Reinventando Organizações", mapeia os estágios evolutivos das organizações e seus desafios característicos: 


  1. Impulsivo-Vermelho: Organizações com lideranças autocráticas, em que impera um grande nível de caos e grande flexibilidade de procedimentos e regras, alteradas a todo o momento pelos fundadores. O desafio aqui é equilibrar a influência do fundador com uma cultura de segurança e regras claras. Suspeito que as empresas do Elon Musk estejam por aqui. 

  2. Conformista-Âmbar: Estruturas hierárquicas e ordenadas, típicas de corporações tradicionais. Há grande estabilidade e previsibilidade, mas o nível de criatividade e empreendedorismo interno é muito baixo. O desafio é incentivar a criatividade e adaptabilidade dentro de um quadro de regras bem definidas. Governos e organizações militares tendem a operar neste nível. 

  3. Realizador-Laranja: Empresas focadas em inovação e meritocracia, como as que dominam o cenário da tecnologia. São muito dinâmicas, mas seu ambiente pode se tornar tóxico e árido. Aqui, o desafio é fomentar a colaboração em um ambiente competitivo. Estão neste nível as grandes empresas líderes de mercado na indústria, setor financeiro e de telecomunicações. 

  4. Pluralista-Verde: Organizações que valorizam a igualdade e a sustentabilidade, como empresas que procuram integrar resultado financeiro com impacto socioambiental. Também buscam incluir os diversos interessados em sua estratégia, para além dos acionistas, o chamado Capitalismo de Stakeholders. O desafio é manter a agilidade decisória em uma cultura de consenso. Um expoente desta cultura é a Patagonia, cujo e-commerce inclui roupas de segunda mão vendidas pelos próprios clientes e que dedica um assento do seu conselho à Natureza. 

  5. Evolutivo-Turquesa: Empresas que operam com autogestão e propósito evolutivo, representando o ápice da cultura analítica. São organizações com alto grau de adaptabilidade às mudanças, enquanto mantêm-se firmes nos seu propósito. Possuem alta capacidade de descentralização do poder e conquista de resultados. O desafio é manter a inovação contínua e integrar técnicas avançadas de análise de dados.  São ainda muito raras, mas já se encontram entre nós! Uma empresa citada no livro Reinventando as Organizações é a Buurtzorg, organização holandesa de assistência domiciliar utiliza de maneira inovadora equipes independentes de enfermeiros na prestação de cuidados relativamente baratos organizados em times autogeridos. Com um escritório relativamente pequeno, em torno de 50 funcionários, dá suporte a 14 mil enfermeiros, os quais se organizam em células autogeridas e atendem 90 mil pacientes.  


Um resumo bem interessante e visual dos níveis descritos acima pode ser visto na figura abaixo, e o vídeo completo com sua explicação, neste link.



Para cada estágio evolutivo, uma abordagem específica para a construção de uma cultura de experimentação se faz necessária: 

 

  • Impulsivo-Vermelho: Em ambientes onde processos não são bem definidos, a chave é começar identificando indicadores essenciais e discutindo-os em reuniões de gestão. A recomendação é iniciar o treinamento em análise de dados básica, promovendo a criação de uma estrutura inicial para a coleta e análise de dados e utilizando os dados em reuniões de gestão periódicas. 

  • Conformista-Âmbar: Com regras e processos estabelecidos, a organização pode construir bancos de dados estruturados e painéis de gestão automatizados. Ainda que a hierarquia limite a experimentação, é possível começar a descentralizar dados e encorajar a equipe a explorar criativamente os dados para tomada de decisões mais informadas, com experimentos simples para impactar o negócio e criar casos de sucesso. 

  • Realizador-Laranja: Neste estágio, com painéis de gestão e modelos preditivos já integrados, a experimentação deve ser incentivada para além da zona de conforto. A intenção é promover uma cultura onde erros são vistos como oportunidades de aprendizado, e onde a análise de dados é usada para impulsionar inovação e colaboração interdepartamental. Documentar o ciclo de experimentação e fomentar uma comunidade de aprendizagem é vital para seguir avançando no uso de dados. 

  • Pluralista-Verde: Aqui, a análise de dados é uma ferramenta de colaboração e tomada de decisão. A organização deve focar em elevar a análise de dados para um papel estratégico, integrando experimentação e insights dos clientes diretamente na estratégia de negócios, e promovendo a análise de dados como uma competência central para todos os funcionários e utilizando experimentos, inclusive nas pesquisas com clientes, em todas as áreas. 

  • Evolutivo-Turquesa: Neste nível avançado, a análise de dados e a experimentação são fundamentais para a autogestão e o propósito da organização. Investir em técnicas avançadas, como aprendizado de máquina e inteligência artificial, é crucial, assim como manter uma cultura de inovação contínua e aprendizado colaborativo. 

 

À medida que avançamos em direção a um futuro empresarial cada vez mais dinâmico e incerto, a capacidade de uma organização de se adaptar e evoluir torna-se crucial. A construção de uma cultura de experimentação em cada estágio evolutivo não é apenas uma estratégia para sobrevivência; é um caminho para a excelência e inovação contínua. 

Neste contexto, a análise de dados emerge como uma ferramenta indispensável, transformando informações em insights valiosos e orientando decisões estratégicas. Desde a fase Impulsivo-Vermelho, onde a organização começa a compreender o poder dos dados, até o estágio Evolutivo-Turquesa, onde a análise de dados e a experimentação são integradas em todos os aspectos do negócio, cada estágio representa uma oportunidade única de crescimento e aprendizado. 


A verdadeira transformação ocorre quando as organizações não apenas implementam ferramentas de análise de dados, mas também abraçam uma mentalidade de experimentação contínua. Este é o terreno onde as ideias inovadoras florescem e onde as organizações não apenas respondem às mudanças, mas as lideram. 

À medida que encerramos esta discussão, fica claro que, independentemente do estágio evolutivo em que sua organização se encontra, há sempre espaço para crescimento e melhoria. Ao abraçar a experimentação e a análise de dados, sua organização pode se tornar mais ágil, adaptável e preparada para os desafios do futuro. 

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