Uma Estratégia para Inclusão Social e Competitividade Global
No cenário contemporâneo, onde a tecnologia e os dados moldam o futuro das nações, o Brasil se depara com um desafio crítico e, ao mesmo tempo, uma oportunidade sem precedentes na educação nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM). Esta área, que é a pedra angular do desenvolvimento moderno, coloca o Brasil em uma encruzilhada: continuar seguindo o caminho atual ou redefinir seu futuro tecnológico e social.
Figura 1: Principais países por número de graduados em STEM em 2020
A comparação internacional revela um panorama preocupante. Em 2020, a China liderou com 3,57 milhões de graduados em STEM, seguida pela Índia com 2,55 milhões. O Brasil, apesar de avanços recentes, teve apenas 238 mil graduados nesses campos. Estes números, mais do que meras estatísticas, refletem o potencial inexplorado do Brasil em um mundo cada vez mais orientado por dados e inovação tecnológica.
Essa discrepância não é apenas uma questão de números, mas um reflexo da distribuição de oportunidades e recursos. Enquanto os líderes globais em STEM, como China, Rússia e Alemanha, superam a marca de 36% de graduados nessas áreas, o Brasil fica com modestos 17%.
Isso é ainda mais marcante quando se considera a tendência de cursos que exigem menos investimentos em laboratórios e centros computacionais, como Pedagogia, Direito e Administração serem disparados os que mais produzem novos graduados, destacando uma necessidade urgente de orientação para as demandas do mundo moderno.
Figura 2: Porcentagem do total de graduados em áreas STEM em 2020
O impacto dessa defasagem vai além da competição global. O desemprego juvenil no Brasil, que afeta desproporcionalmente os mais vulneráveis, é um sintoma de um problema mais amplo. Como Tatiane Zamai, da Fundação FEAC, aponta, a inclusão produtiva dos jovens requer uma abordagem holística que ultrapasse a simples inserção no mercado de trabalho “é preciso extrapolar a inserção no mercado de trabalho, contribuindo para o rompimento de ciclos degradantes e de desigualdades, atuando em questões fundamentais como educação, saúde, direitos sexuais e reprodutivos, racismo, diversidade, comunicação, entre outros que afetam diretamente as possibilidades de inclusão socioprodutiva desta população.”
A educação em STEM, especialmente em análise de dados, oferece uma via para romper com ciclos de pobreza e desigualdade, preparando os jovens não apenas para um mercado de trabalho dinâmico e em constante mudança, mas formando cidadãos mais conscientes. Pesquisa recente conduzida pela economista Janaína Feijó, do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), com dados das 126 profissões listadas na Pnad Contínua do IBGE, coloca Estatísticos e Matemáticos na segunda colocação no ranking das profissões mais bem remuneradas do Brasil, atrás apenas de médicos especialistas.
Neste contexto, a formação de cientista de dados, que tem como base a estatística, matemática e computação, emerge como um farol de esperança. Há mais de uma década, o artigo da Harvard Business Review "Cientista de Dados: A Profissão Mais Sexy do Século XXI" já apontava para a crescente demanda por esses profissionais. Hoje, essa demanda não apenas persiste, mas se intensifica globalmente, com um aumento substancial nas ofertas de emprego e salários atrativos. O Brasil, portanto, tem a oportunidade de se posicionar como um líder na formação desses profissionais.
Para capitalizar esta oportunidade, é crucial que o Brasil não apenas reconheça a importância da educação em Ciência de Dados e Estatística, mas também aja de maneira decisiva. Investir em programas que incentivem jovens, especialmente aqueles em situações de vulnerabilidade social, a perseguir carreiras nas áreas de dados é apenas o começo. É necessário ir além, fornecendo estímulos financeiros, cursos técnicos e oportunidades profissionalizantes que não só os preparem para o mercado de trabalho, mas também permitam que contribuam financeiramente com suas famílias durante o processo de formação.
Diante dos desafios contemporâneos, o Brasil enfrenta a decisiva tarefa de redefinir sua trajetória educacional e social, com foco especial na Aprendizagem com Dados. Esta abordagem não é apenas uma resposta à crescente demanda global por competências em análise de dados, mas também uma estratégia vital para combater desigualdades e abrir caminhos para o desenvolvimento econômico inclusivo. Investir na Educação em Dados, particularmente para jovens em situações de vulnerabilidade, pode ser o catalisador para um Movimento Transformador Massivo, no qual a inclusão social e a competitividade global se alinham. Ao mobilizar uma ampla participação em educação em dados, promovendo sinergias entre escolas, empresas, governo e sociedade civil, o Brasil pode não apenas fechar a lacuna de habilidades no contexto moderno, mas também capacitar os jovens para que se tornem agentes ativos de uma sociedade mais consciente, justa e próspera. Assim, o país não só enfrenta seus desafios internos, mas também se posiciona estrategicamente no cenário global, transformando obstáculos em oportunidades para um futuro mais promissor e inclusivo
Referências:
Oliss, B., McFaul, C., & Riddick, J. C. (2020). The Global Distribution of STEM Graduates: Which Countries Lead the Way? https://cset.georgetown.edu/article/the-global-distribution-of-stem-graduates-which-countries-lead-the-way/
Observatório do 3º Setor. (2020). Dados do Ministério da Educação apontam os cursos com maior número de concluintes. https://observatorio3setor.org.br/observatorio-em-movimento/educacao/dados-do-ministerio-da-educacao-apontam-os-cursos-com-maior-numero-de-concluintes/
Davenport, T., & Patil, D. J. (2012). Data Scientist: The Sexiest Job of the 21st Century. Harvard Business Review. https://hbr.org/2012/10/data-scientist-the-sexiest-job-of-the-21st-century
Forbes Brasil. (2023). Médicos, matemáticos, geólogos: veja as profissões mais bem pagas no Brasil. https://forbes.com.br/carreira/2023/10/medicos-matematicos-geologos-veja-as-profissoes-mais-bem-remuneradas-no-brasil
Fundação FEAC. (2023). Alto desemprego entre jovens afeta principalmente os mais vulneráveis. https://feac.org.br/alto-desemprego-entre-jovens-afeta-principalmente-os-mais-vulneraveis/
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