top of page
Foto do escritorCarlos Formigari

Tormenta de Dados

Atualizado: 21 de nov. de 2023

As Barreiras que Transformam a Tempestade de Dados em Pântanos de Inação.


Na era Digital, da Tecnologia e dos Dados, nossa capacidade de capturar, armazenar e tratar informações tem crescido exponencialmente, assemelhando-se a um verdadeiro dilúvio. Graças aos avanços como big data, redes sociais, IoT, sensores e smartphones, estamos imersos em uma "tormenta de dados". Entretanto, em meio a essa tempestade, encontra-se muitas vezes esquecido o elemento principal no processo de geração de conhecimento e resultados: o ser humano. Mesmo com toda evolução tecnológica, parece que a sofisticação nos processos de tomada de decisão tem ficado atolada em pântanos de inação.


Uma questão que sempre me acompanhou e provocou reflexões em diversas dimensões foi a do porquê pessoas e organizações, do analista ao C-Level, raramente usavam plenamente essa chuva torrencial de dados e informações para a tomada de decisões, ou para ser irônico, usavam bem menos do que aquilo que propagandeavam.


Um exemplo marcante que sempre me ocorre, vem de meus primeiros projetos na minha empresa de Pesquisa de Mercado, a Limite, no interior de São Paulo ainda nos anos 90. Nessa época, percebi que muitos empresários e diretores das empresas que nos contratavam acabavam sendo dominados pelas suas certezas e intuição para tomar as decisões e frequentemente ignoravam os dados apresentados em nossas pesquisas. Essa vivência me evidenciou uma primeira barreira para a utilização adequada de dados: a presença de vieses e heurísticas, tão bem discutidos pelo psicólogo comportamental Daniel Kahneman em seu livro "Rápido e Devagar".


Ao longo do tempo, fui aprendendo que mais importante que as informações, era o conhecimento gerado a partir da confrontação destas informações com as hipóteses e predições de resultados ou comportamento previamente registrados. Isso começou a ficar claro quando alterei a forma de apresentação dos resultados das pesquisas. Até aquele momento, apresentávamos diretamente os resultados das pesquisas. Em seguida, os diretores ou donos do negócio geralmente afirmavam que não havia muita novidade nas informações apresentadas (particularmente quando estavam em grupo) e não raramente comentavam com entusiasmo os resultados observados com frases do tipo “isso nós já sabemos” ou ainda “eu sempre disse isso aqui dentro”. Claro, este comportamento, de defesa, causava uma paralisia de ação, pois se todos já conheciam as informações e os dados não traziam nada de novo, o que então eles teriam que fazer para alcançar melhores resultados?


A partir do momento que alteramos o processo de apresentação dos resultados, começando com perguntas sobre o negócio e estimulando os gestores a fazerem suas predições acerca dos resultados que iríamos apresentar, percebemos que não só os executivos e empreendedores normalmente se equivocavam em suas predições, mas, mais importante, eles já começavam a “se mexer” para elaboração de novas estratégias para alavancar os resultados.


Se por um lado gestores precisam se sentir sempre certos e não gostam de expor suas fragilidades em grupo, por outro, bons gestores gostam de corrigir o rumo e liderar a mudança quando têm evidências concretas de que as coisas não estão bem.

Muito antes dessa minha constatação, o método de elaborar hipóteses, buscar dados para testar estas hipóteses e. a partir daí tirar conclusões sobre o fenômeno em análise estabelecendo novos aprendizados, além de criar novas hipóteses a serem testadas, já havia sido estabelecido, criando um marco na história da humanidade: o método científico! Assim também observou W.E. Deming, estatístico e um dos principais nomes da história na área de Qualidade: só existe aprendizado se confrontamos a realidade (os dados) com nossas crenças (hipóteses e predições).


Voltando à experiência com pesquisas de mercado, superado o bloqueio do aprendizado devido aos vieses, com as hipóteses e predições ficando evidentes antes da revelação da pesquisa, ainda que os dados fossem aceitos e as oportunidades esclarecidas, na maior parte das vezes as empresas e seus executivos simplesmente não sabiam como agir para implementar mudanças ou inovações com base nessas informações e passavam anos a fio com os mesmos problemas e oportunidades, atolados num pântano de inação.


Isso me deu pistas de uma segunda barreira ao uso efetivo dos dados: a falta de uma metodologia eficaz para promover mudanças e inovações a partir dos dados. Em meio à tormenta, navegamos buscando alavancar os resultados desejados. Porém, descobrir como transformar essa tempestade em energia produtiva e resultados é tema para o próximo artigo.


967 visualizações3 comentários

Posts recentes

Ver tudo

3 Comments


isabella formigari
isabella formigari
Oct 13, 2023

Ótimo artigo, como sempre. Que venha o 2º!

Like

Daniel Mello Oliveira
Daniel Mello Oliveira
Oct 11, 2023

Bom dia, Carlos!


Meu nome é Daniel Mello e tenho trilhado ao longo de minha carreira profissional e pessoal por caminhos que demonstram claramente que realmente vivemos uma tormenta de dados. Hoje, com a facilidade dos recursos de mídia disponíveis, muitas pessoas montam lindos ppt, mas com pouca profundidade.

Nos afundamos em discussões sem base analítica nenhuma e decisões são tomadas com os dedos cruzados...rsrs

Seu artigo deixa muito claro, por sua experiência e interpretação, que somente o volume de dados não é suficiente... a análise através de um método científico é o que importa.


Fico no aguardo do segundo artigo. Parabéns!

Like
Carlos Formigari
Carlos Formigari
Oct 11, 2023
Replying to

Oi Daniel, é isso mesmo! E na semana que vem, vamos abordar um método para tratar essa segunda barreira para o uso efetivo dos dados. Obrigado!

Like
bottom of page